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Os 10 mandamentos da mãe moderna

 

A maternidade não é tarefa fácil, embora muito gratificante. Só quem tem filhos sabe que a mulher não se sente completa antes de experimentar aquela insubstituível sensação de ser chamada de “mãe”, seja pelo filho bebê, criança, adolescente, jovem ou adulto. A psicóloga Maria Tereza Maldonado, mãe de Mariana, de 26 anos, e de Cristiano, de 21, elaborou com exclusividade estes dez mandamentos da mãe moderna, nos quais expõe as dificuldades nos tempos atuais da função materna e ainda sugere formas para enriquecer o relacionamento entre mães, pais e filhos.

1. Cuide bem do planejamento familiar para evitar gestações não desejadas

Hoje, no Brasil, ocorre um fenômeno curioso. O índice de fertilidade das adolescentes aumentou e das mulheres adultas regrediu. Grande número dessas gestações não é planejado, nem desejado. Muitas vezes isso acontece não por falta de informação, mas por outros fatores. É claro que uma gestação inicialmente não desejada pode vir a ser desejada e, inclusive, dando origem a um bom vínculo. Os sentimentos se transformam, mas constituem um fator de risco. Às vezes esses sentimentos não mudam, originando situações complicadas. Hoje, a mulher tem acesso a inúmeros métodos contraceptivos. Há muitos recursos para homens e mulheres. Portanto, só engravida quem se descuida e só deve engravidar quem deseja, realmente, ter um filho. Este pode ser o primeiro passo para um dia se tornar uma boa mãe.

2. Lembre-se de que o equilíbrio entre as funções de mulher, mãe e profissional é difícil, porém possível.

O equilíbrio é sempre algo a ser buscado e nunca inteiramente conseguido porque o crescimento dos filhos vai gerando uma série de mudanças. Uma coisa é uma família com crianças pequenas, outra uma família com crianças maiores ou adolescentes. Eles vão precisar das funções materna e paterna de formas diferentes. Esse equilíbrio precisará de uma revisão constante, diária. “O que está sendo necessário agora?” É importante se perguntar sempre, pois a relação nunca está acabada. Essa revisão, essa reflexão constante, vai oferecendo os caminhos para buscar cada vez mais recursos, novos caminhos, novas formas de lidar com o presente. Cada filho na sua fase traz complexidade e possibilidades. E cada período dos filhos oferece dificuldades e também encantos.

3. Acredite que homens e mulheres podem compartilhar as funções de provedores e cuidadores.

Nas funções tradicionais, o homem é quem saía para trabalhar e buscar os recursos para sustentar a casa: o provedor. E a mulher ficava em casa cuidando dos filhos, do marido, das funções domésticas: a cuidadora. Trabalhando muito dentro de casa, mas sem ocupar o lugar de provedora. Com a entrada da mulher no campo de trabalho, ela também passou a ser provedora. E, nos momentos iniciais dessa transição, o homem não desenvolveu o papel de cuidador. Hoje em dia, no Brasil, ocorre uma circunstância difícil: cerca de vinte por cento das mulheres são chefes de família, acumulando funções de provedora e cuidadora. É perfeitamente possível conseguir esse equilíbrio entre o homem e a mulher, na função tanto de provedor quanto de cuidador. Nos primórdios das teorias psicanalíticas ou psicológicas se acentuava muito a importância da função materna. Depois começaram a surgir estudos sobre a importância da função paterna, neste aspecto de cuidador. Há pais que desempenham bem a função de cuidador. Dão um banho no filho pequeno, acompanham os deveres escolares, colaborando numa série de tarefas condizentes com a função de cuidar do filho. Outros, mesmo quando a mulher trabalha fora, acham que estão “ajudando” a mulher em tarefas que deveriam ser desempenhadas apenas por ela. Não encaram como uma responsabilidade compartilhada. Mas, hoje, vê-se, em episódios de separação, o filho decidir morar com o pai. Ou até mesmo, na questão da guarda compartilhada, que pai e mãe repartam funções. Algumas famílias estão conseguindo essa partilha de funções: cuidador e provedor. Esta deve ser a tendência a ser trabalhada como um componente da cultura: homens e mulheres podendo se ver e serem vistos nessas duas funções.

4. Crie oportunidades para estar com os filhos: a qualidade é mais importante do que a quantidade de contato; mas, sem um mínimo de quantidade não pode haver qualidade.

Já se falou muito sobre isso. É claro que uma mãe ou um pai podem permanecer o dia inteiro em casa e não estarem de fato com os filhos. É o estar sem estar, o não estar disponível para dar atenção. E isso não conta como qualidade. Mas, por outro lado, se essa mãe ou esse pai estão sobrecarregados de tarefas, trabalhos, compromissos, agendas cheias, e os filhos, desde crianças, possuem também a agenda cheia de aulas complementares, cursos, etc., de repente vê-se uma família que se esbarra, mas não se encontra. E a casa fica quase como um ponto de dormitório e não como um lar. Então, essa família tem que batalhar por qualidade, e quantidade, também. Tal possibilidade vai depender muito da criatividade e da disposição das pessoas para criarem situações que gerem o encontro. Pode ser uma boa oportunidade de contato levar um filho para a escola. Outra chance é o acordo para desligar a televisão na hora do jantar. Um novo momento é gerado se todos resolverem ir para a cozinha fazer um almoço de domingo, instituindo o sistema da tarefa compartilhada. Essa questão da qualidade vai depender muito de “fazer” o tempo; porque o tempo que as pessoas não têm deve ser criado. É importante criar de forma compartilhada, descobrir coisas que a família possa fazer em conjunto, descobrir interesses comuns para que essa qualidade e esse tempo de convívio sejam bem aproveitados.

5. Desenvolva o “olhar de apreciação” mais do que o “olhar crítico”: o reconhecimento das competências ajuda a construção da autoestima.

Tradicionalmente, os pais só se referem ao que os filhos fazem de errado. Hoje, o que se constata nos projetos sociais de recuperação de adolescentes infratores ou na dinâmica da sala de aula é o caminho oposto. Em lugar de ficar repetindo as mesmas reclamações, de impor os mesmos castigos, o ideal é começar a iluminar aquilo que está bem. Ressaltar a qualidade, a eficiência e os acertos para que a criança e o adolescente sintam que estão sendo vistos dentro da sua competência, naquilo que ele está fazendo de bom. Afinal, ninguém erra o tempo todo. Os pais tendem a só comentar o que não gostam, esquecendo de falar sobre os que os filhos fazem certo. Para facilitar o convívio, a atitude positiva é fundamental. E o retorno é rápido. Evite aquele circuito repetitivo, entra dia, sai dia, com o mesmo disco arranhado. Elimine o hábito tão comum de olhar o boletim e só comentar as notas ruins. Hoje, até as empresas estão adotando tal tipo de conduta: ressaltam as qualidades e a competência para que o funcionário tenha meios de corresponder adequadamente.

6. Considere que a família é uma pequena comunidade: estimule, desde a infância dos filhos, a cooperação e a solidariedade.

Tradicionalmente, os filhos eram criados sem muitos direitos. “Cale a boca que os mais velhos estão falando”, “criança não dá palpite, não dá opinião”. O regime era de total autoritarismo, sem participação das crianças, que tinham apenas a função de obedecer e respeitar. O pêndulo mudou para o outro lado e se passou a ter uma postura muito permissiva, com deficiência de colocação de limites. Nisso, o desejo da criança e do adolescente ficou imperioso. Agora, em grande parte das famílias, o que ele quer é feito, o que ele exige é satisfeito. Criou-se, assim, uma geração de pequenos tiranos. O que acontece com essas crianças? Elas não desenvolvem o respeito e a consideração pelas pessoas, porque elas vivem pela lei do desejo. “O que eu quero é o que tem que ser feito; e se eu quero as pessoas têm que se submeter”. E a satisfação deve, ainda, ser imediata. E, então, toda essa coisa do respeito, da cooperação, da solidariedade não se desenvolve. Porque não se desenvolveu o olhar de consideração pelos outros. Isso pode causar problemas enormes no desenvolvimento da pessoa, mais graves do que o excesso de autoritarismo imposto às gerações anteriores. Porque o excesso de autoritarismo cria repressão e aprisionamento interior. O excesso de permissividade cria dificuldade de controle da agressividade, gera condutas antissociais e violentas. Além de encolher esse sentimento de partilha, solidariedade, cooperação. O ideal é não viver descontrolado nos seus impulsos, tanto da raiva quanto do desejo, pois isso faz também muito mal a quem está em volta. Ninguém se sente bem perto de pessoas prepotentes, desagradáveis, egoístas. É muito importante, dentro da situação da modernidade, passar a olhar a família como uma pequena comunidade. E isso vale para famílias de pais casados, descasados, recasados, qualquer tipo de organização familiar. Que seja sempre estimulada essa questão da cooperação, da solidariedade, porque o que está em pauta hoje nas discussões é que, se a gente não aprende a criar gerações não violentas e solidárias, como é que a gente vai combater a questão da violência, em todos os níveis que ela se apresenta?

7. Ao colocar os limites devidos e necessários, combine serenidade, firmeza, consistência e coerência.

Porque, nessa questão do excesso de trabalho, os pais se sentem culpados por não estarem com tempo para dar atenção: falta de tempo para brincar, conversar. Chegam exaustos em casa e se sentem em dívida com os filhos. E como estão muito cansados para impor limites, estes se tornam inconsistentes. Na altura da terceira vez em que o filho se senta com os pés no sofá, os pais desistem de repreendê-lo, por exemplo. Ou desistem de dizer ao adolescente que não é razoável ocupar o telefone durante uma hora e meia, porque isso acontece diariamente. Sentem-se cansados para estabelecer esse limite de que o telefone é de todos. Com isso, cada vez os filhos avançam mais no “quero agora e mais”, na busca da realização imediata dos seus desejos. Quando os pais não aguentam mais, atingem o limite da paciência, explodem em berros, ameaças, castigos, surgindo o caos total. E como consequência, os filhos se rebelam, se contrapõem, xingam de volta: “Vocês estão estressados, estão malucos!” Daí a importância de o limite chegar acompanhado de serenidade, firmeza, consistência e coerência.

8. Cultive com carinho sua “criança interior” que lhe permitirá não só brincar alegremente com seus filhos, como também captar melhor o ponto de vista deles.

Ao longo de seu desenvolvimento, os adultos não perdem as etapas anteriores. Felizmente, todos nós mantemos nossa criança e nosso adolescente interiores. Mas, muitas vezes, dentro de nós, adultos, essa criança interior fica soterrada sob um aspecto de superexigência, de excesso de seriedade, de autocrítica. A gente não se permite relaxar, brincar, dar gargalhadas, fazer besteira. E isso é muito importante para o nosso equilíbrio e para não perdermos esses canais de sensibilidade. Assim, conseguimos nos colocar sob o ponto de vista de uma criança. No lugar delas poderemos sentir o que sentem, e como sentem. Porque uma mesma situação pode ser vista a partir de vários ângulos. Se o adulto consegue tratar com carinho essa criança e esse adolescente interior, vai conseguir ser mais flexível diante das várias situações que se sucedem no dia-a-dia com os filhos. Quando consegue olhar a situação por outros ângulos, em lugar de empacar, de bater de frente com eles, a mãe e o pai vão poder estabelecer o que chama de “acordos de convívio”. Vão poder observar e julgar a situação “um pouco do jeito que eles percebem e um pouco do jeito que o filho vê”. E assim encontrar uma terceira via, que pode satisfazer a todos. Porém, para que isso aconteça, flexibilidade é fundamental.

9. Simplifique a vida, reveja sempre suas prioridades para evitar sobrecargas e sentimentos de culpa avassaladores.

Uma questão que perturba principalmente as mulheres é achar que tem que desempenhar todos os papéis que lhe competem com perfeição. A mãe deve parar, pensar, ver o que tem feito, o que pode deixar de ser feito, o que pode deixar de fazer hoje porque não é tão importante assim, o que não tem que ser feito nunca. Trata-se de uma revisão diária. “Preciso mesmo arrumar esta gaveta?” Isso vai possibilitar a simplificação da rotina diária e da vida, tornando-a mais leve, menos pesada em termos de responsabilidades desnecessárias. Este ponto se combina com o aspecto da família como uma pequena comunidade solidária. Todo mundo deve ajudar a arrumar a casa, mesmo quando existe empregada. As pessoas devem compartilhar as tarefas e com isso vão ajudar a fazer da casa um lugar mais agradável.

10. Desenvolva sempre sua capacidade amorosa, sua sensibilidade, sua intuição.

Aqui, novamente, é importante lembrar que a capacidade de mudança, de renovação, não acaba nunca. Pessoas de terceira idade conseguem fazer mudanças fenomenais, quanto a estilos de vida, qualidade de vida, formas de se relacionar. Esse desenvolvimento da capacidade afetiva vai possibilitar acompanhar o crescimento da família, em suas diversas fases, descobrindo sempre canais de troca, de partilha, de participação, de ligação. Esse desenvolvimento da capacidade amorosa não deve ser acionado somente em termos de renúncia (“ser mãe é padecer no paraíso”), ou pelo menos, não apenas neste sentido.