A diretora de uma escola na qual dei palestra me contou que muitos pais comentam que seu nome é frequentemente mencionado para mediar “à distância” os conflitos com os filhos: “Se não comer direito, vou contar para a diretora!”; “Se insistir em ir de chinelo para a escola, a diretora não vai deixar você entrar!”. Ao receber os alunos na porta da escola, tenta mostrar aos pais que não é possível para ela exercer essa função.
Há uma frase que muitas mães repetem há décadas: “Você vai ver o que vai acontecer quando seu pai chegar do trabalho!”. Reflete o desgaste de ordens ignoradas e de ameaças ineficazes. Outra frase comum: “Esse menino me leva à loucura!”. Revela o desespero e o sentimento de total impotência quando se esgotam todos os recursos para lidar com a teimosia, a resistência e o enfrentamento. As crianças conseguem ler rapidamente as entrelinhas dessas mensagens: “Mamãe não consegue me controlar, está desesperada. Posso continuar a fazer o que eu quero!”. Na disputa pelo poder, muitas crianças saem vencedoras (porém assustadas, sem contar com a contenção protetora). Os adultos ficam acuados, inseguros, perdidos. Principalmente quando não conseguem compartilhar de modo satisfatório a função parental para fazer face à enorme responsabilidade de educar um filho.
Não é fácil lidar com as crianças “conectadas”, com amplo acesso à informação: o vocabulário se expande rapidamente, os argumentos são elaborados desde cedo, o questionamento desarma, a insistência cansa. Para se sentirem bons pais, muitos deixam de colocar os limites necessários para ajudar a criança a construir o freio interno da autodisciplina e do respeito às normas e regulamentos da vida social e escolar.
“Já tentei de tudo, nada dá certo, ele só faz o que quer!”. Com esses pais, procuro examinar o circuito interativo para entender melhor o que acontece. O que está alimentando a insegurança dos pais? Estão falando uma coisa e fazendo outra? Os diferentes componentes da comunicação estão desencontrados, fazendo com que a palavra se enfraqueça? Há consequências que são aplicadas quando os “combinados” não são cumpridos? Ou também dentro de casa “tudo acaba em pizza”, como vemos acontecer com uma frequência assustadora no cenário nacional? A partir desse entendimento, surgem caminhos para ampliar recursos de manejo. Inclusive para construir uma parceria mais eficiente entre a família e a escola, que exercem funções complementares, para que crianças e adolescentes desabrochem plenamente.
Comunicação é palavra, expressão corporal e ação
Quando essas três coisas se integram
Mandamos mensagens coerentes
Mas quando se desencontram
É a palavra que perde o poder.