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Que outras infâncias são possíveis, em outras sociedades? Onde a aprendizagem se faz fora dos cenários educacionais convencionais. São oportunidades de ter experiências diferentes, no mundo, fora do espaço escolar.

Como são os cuidados que bebês e crianças pequenas recebem em comunidades indígenas, terreiros de religiões de matriz africana, em assentamentos de pessoas sem-terra?

Gostei de acompanhar a troca de ideias no evento MIMUS- múltiplas infâncias, múltiplos saberes, promovido pela ONG Usina da Imaginação, em 2021.

Em entrevistas com pessoas desses diversos contextos, conhecimentos interessantes a respeito de práticas de cuidados nos primeiros anos de vida e da importância da comunidade participando desses cuidados para estimular a autonomia, dar oportunidades de explorar o ambiente e de interagir com outras crianças e adultos.

Vou sintetizar algumas ideias que me chamaram a atenção:

Em comunidades indígenas, irmãos mais velhos cuidam dos mais novos e as crianças vão para a roça com os adultos para aprenderem desde cedo o manejo dos alimentos. Aprendem a se virar: carregar lenha, acender o fogo, torrar a farinha. Mas brincam muito, e vão assumindo pequenas responsabilidades gradualmente.

No projeto Xingu/Unicef, há vários cuidados com a gestante e o pai da criança, regras do que pode ou não ser feito, para proteger o feto e o bebê. No início, ficam reclusos, depois a criança vai sendo gradualmente inserida na comunidade para aprender atividades do dia a dia. A amamentação dura 2 anos ou mais. Mais alguns anos, e a criança vai com a mãe para a roça, aprendendo manejo das sementes, das plantas.

Há plantas que ajudam no trabalho de parto, além de orações de proteção para a criança. O pai não pode trabalhar logo após o nascimento, fica em quarentena para se proteger de espíritos maléficos que podem fazer mal também para a criança.

Os avós são muito atuantes. Mas nas maternidades da área urbana, o mais comum é os profissionais não aceitarem os rituais de assistência ao parto usados nas comunidades indígenas.

Em terreiros de candomblé, há uma forte ligação da criança com o Sagrado. Ênfase na cooperação da comunidade na educação das crianças que desde os primeiros anos de vida estão incluídas nos rituais religiosos, em contatos com os instrumentos e objetos de culto.

Sem moradias dignas, o que é da responsabilidade do Estado, as famílias sem-terra, que vivem em assentamentos e em ocupações cuidam das crianças são cuidadas. Há figuras femininas de referência para aconselhar e ajudar, inclusive na gestação.

Sem brinquedos estruturados, crianças brincam com objetos que encontram e criam brincadeiras. Em uma ocupação em Recife, há uma creche comunitária para crianças a partir de 1 ano. Crianças frequentam as associações, reuniões de luta pelos direitos, e dão suas ideias. Ênfase no coletivo: cozinha comunitária, horta, espaços de convivência.

Há necessidade de ampliar políticas públicas de assistência de boa qualidade para famílias grávidas e com crianças pequenas. Um desses projetos é o PIM (Primeira Infância Melhor), criado há duas décadas no RS, com visitas domiciliares semanais, com pessoas da comunidade capacitadas para trabalhar a estimulação adequada para o bom desenvolvimento da criança até 3 anos com as famílias em situação de vulnerabilidade social.

Nesses diversos contextos, as crianças aprendem muito umas com as outras e ensinam muitas coisas aos adultos.

O que vemos é que há muitas formas de educar e de aprender coisas diferentes do convencional. E são essas diversas infâncias que vão construir um novo mundo.

Para quem se interessar em assistir o evento completo:

https://www.youtube.com/watch?v=pQwDdkf8t0U&t=3s- dia 06.

https://www.youtube.com/watch?v=akFlEmEvmqQ – dia 07/07

https://www.youtube.com/watch?v=QwHgc2NgbRg – dia 08/07

https://www.youtube.com/watch?v=E2xw1PWWHFM- dia 09/07

https://www.youtube.com/watch?v=2UjZ8-gLrb4&t=8009s -dia 10/07