O tema da conversa com um grupo de amigos foi sobre a dificuldade de conviver com as diferenças. “As células do nosso corpo nos dão uma bela aula de convivência com a diversidade” – comentou uma das participantes. Há diferenças entre os neurónios e as células do coração ou do fígado. Há semelhanças também, é claro. Mas entre as células que compõem os diversos órgãos de um corpo saudável há cooperação e complementação de funções.
Imagino professores dando aulas sobre o funcionamento do corpo saudável incluindo o tema da cooperação e do convívio harmônico com as diferenças. As crianças olhariam cada ser humano como uma célula do corpo da Humanidade. Se conseguíssemos nos relacionar uns com os outros com o predomínio da cooperação e do convívio respeitoso, poderíamos chegar ao patamar da fraternidade universal. Estamos muito longe disso…
“Somos iguais mesmo sendo diferentes” é o título de um dos livros que Marcos Ribeiro escreveu prioritariamente para crianças, embora os adultos também encontrem um bom campo de reflexão nessa leitura. Preconceitos e discriminação revelam a dificuldade de encontrar semelhanças nas diferenças (de etnia, religião, orientação sexual, entre outras). Formam as raízes de condutas hostis e de exclusão dos “diferentes”, inibindo o desenvolvimento da empatia e da compaixão, alimentando ações de bullying e cyberbullying nas escolas e motivando agressões violentas nas ruas e no ambiente de trabalho.
“É difícil conviver com as diferenças dentro da nossa própria família! Temos um neto que veio morar conosco e vemos como ele pensa e age de modo tão diferente de nós” – comentou outra participante. No entanto, diferença nem sempre significa incompatibilidade. Mostrar interesse em entender mais a fundo a visão de mundo do outro enriquece nossa própria visão, quando não nos fechamos rigidamente em nossas próprias “certezas”.
A expansão vertiginosa da internet propicia o contato com a diversidade de culturas do planeta. Pode ser uma grande oportunidade de encontro e de aprendizagem de convívio mas, por outro lado, também dissemina as redes de ódio e de intolerância. O filósofo britânico John N. Gray, ao ser perguntado sobre o projeto de viver juntos que essa interconexão poderia propiciar, manifesta seu pessimismo quanto a essa possibilidade, argumentando que há poderosos movimentos políticos e religiosos que não estão interessados nesse convívio pacífico com diversas crenças e culturas, gerando, inclusive, atos terroristas.
Por outro lado, há milhares de organizações ao redor do mundo interessadas em construir a paz e resolver conflitos (que surgem das diferenças) de modos não-violentos. Acampamentos de férias que reúnem grupos de adolescentes de diferentes culturas para que aprendam uns com os outros. Grupos de mães israelenses e palestinas, unidas pela dor de ter perdido seus filhos, que decidiram atuar como construtoras da paz, com a esperança de romper o ódio recíproco que atravessa gerações.
Os caminhos úteis para a solução de conflitos tratam, essencialmente, de encontrar a área em comum nas divergências por meio da escuta respeitosa do ponto de vista de cada uma das partes.