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A cada dia, tecemos experiências que formam nossa vida. Fotografei a caverna em Bonito (MS): milhares de anos para tecer essas formações.

Ao arrumar as prateleiras de um armário, encontrei o diário que escrevi entre quinze e dezesseis anos. Coisas do século passado! Reli tudo, me reencontrando com a moça tímida, filha única de uma família muito conservadora do subúrbio carioca, onde se cultivava o hábito de colocar cadeiras na calçada no final da tarde para conversar sobre a vida dos vizinhos.

Logo na primeira página, escrevi como eu sentia a adolescência:

“Adolescência é um caso sério. Época de mudança, de instabilidade. Apesar de eu me considerar uma adolescente sem grandes problemas, às vezes tenho verdadeiras guerras com minha própria pessoa. Não sei que valores adotar, que caminhos escolher. Fico indecisa, hesitante, sem saber para que serve tudo o que a gente faz, o que se planeja. Acho que preciso encontrar um objetivo mais substancial para a minha vida”…

Em plena fase de “alfabetização amorosa”, de “flertes” e namoro em que não se andava de mãos dadas nos primeiros encontros e nem se trocavam beijos, escrevi sobre minha angústia por desconhecer o amor:

“Não sei o que é o amor. Acho que ainda não amei ninguém autenticamente! Desconheço os sintomas do amor e fico procurando pistas que me informem. Inutilidade completa! Ah, meu Deus, quando essa situação terminará? Como anseio por superar essas crises de desequilíbrio, de insegurança”!

Há apenas meio século eram raras as famílias que dispunham de telefone. Computadores pessoais e celulares não existiam. Se chovia, não havia encontro, nem na pracinha da igreja nem na calçada em frente à casa. Os desencontros eram frequentes. Quando eu escrevi o texto que se segue, já estava namorando e “levei um bolo”:

Ai que raiva, que aborrecimento! Ontem à noite não choveu, mas Carlos não veio! É o cúmulo da burrice! Se o tempo melhorou, a obrigação dele era vir. Mas não: não veio! Eu toda arrumada, perfumada, pintadinha, impaciente e nervosa olhando pela janela e … nada! Às nove horas fui dormir. Chorei de raiva e desespero. Raiva por ter me aprontado toda, desespero porque é duro se planejar tanto e ver que acontece o contrário. É horrível fazer uma ideia e verificar que ela está errada”.

Foi emocionante entrar nesse túnel do tempo, reler o diário da adolescente que ainda me habita, e que sempre se reconstrói com o acúmulo de experiências de algumas décadas. Essa releitura também me fez refletir sobre como os adolescentes do século XXI vivenciam seus relacionamentos. De uma época em que a virgindade era muito valorizada até hoje em que, dependendo do contexto, uma moça virgem aos 18 anos é vista como problemática. Dos flertes feitos de olhares e sorrisos discretos até o “ficar”, com beijo na boca até antes de saber o nome. Mas, independente da época, continuamos trilhando os infindáveis caminhos do amor e dos inevitáveis desencontros, apesar das mensagens instantâneas que nos alcançam em qualquer parte do mundo.