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Na travessia da dor, somos lançados em mares turbulentos. (Fotografei em Nova Iorque).

Uma leitora me escreveu: “O bebê da minha melhor amiga nasceu com um problema grave e morreu dias depois. Ela não esperava por isso. Está em estado de choque, mal consegue chorar e está muito fechada. Estou preocupada com ela, não sei como ajuda-la”.

A perda de um filho no início da vida é difícil de digerir. Recém-chegado a esse mundo, e já está de partida. Em outras etapas da vida o luto por essa perda continua sendo um dos mais difíceis. No caso dos bebês, muitas mães, inicialmente, ficam paralisadas pela perplexidade, até vir o entendimento de que esse filho sempre continuará vivo no amor, mesmo tendo passado tão pouco tempo nessa vida.

“Não sei o que dizer em um momento como esse” – confessam alguns. Mas, para quem está passando por uma perda difícil, o conforto oferecido pela simples presença dispensa palavras. É a sensibilidade e o afeto de um olhar, um gesto de carinho, um abraço acolhedor. É a disponibilidade amorosa. É a iniciativa de fazer alguma coisa que a pessoa, entristecida, não tem energia para providenciar.

Perdas difíceis também acontecem como longo processo. A perda progressiva de memória e de capacidade cognitiva de pessoas queridas que sofrem do mal de Alzheimer, por exemplo. “Minha mãe ainda está viva mas, de certa forma, deixou de ser aquela que sempre foi, e nem sequer me reconhece” – lamenta a filha, triste por presenciar a deterioração e desconfortável com o sentimento de impotência por não poder contribuir para resolver o problema.

Mas não é só a perda repentina ou progressiva de pessoas amadas que nos abala. A perda da confiança e a decepção em uma relação amorosa ou em parcerias de trabalho, a perda de um projeto que acabou sem decolar como imaginávamos. É o que poderia ter sido mas não foi, a esperança abortada, o sonho desfeito.

“Não me conformo por estar passando por isso”! – dizem alguns, revoltados com o sofrimento desencadeado pela perda, o que amplia ainda mais sua dimensão. Ao mergulhar em águas profundas, saímos da turbulência da superfície. Mergulhar em nosso interior, rumo ao centro da serenidade, nos ajuda a fazer a travessia da dor, compreendendo melhor a força e a fragilidade da vida e ampliando a percepção do que está acima e além dos nossos sentidos, tão limitados.