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Há circunstâncias que nos impelem a atravessar caminhos difíceis. (Fotografei no Grand Canyon, Califórnia).

Foi assim que M. (58) se definiu, ao dizer que teve que abrir mão de muitas coisas por ser deficiente físico. De família de baixa renda, passou por múltiplas cirurgias na infância, e é cadeirante. Para ele, felicidade não é ficar rico, é se dar bem com as pessoas e acordar sempre sorrindo, mesmo quando sente dores físicas. Nesses momentos, o melhor a fazer é pegar seu violão e compor ou, então, escrever alguma coisa.

Eu o entrevistei para minha pesquisa sobre construção da felicidade. Em vários momentos, M. revelou ter muita autonomia em seu cotidiano, uma enorme alegria de viver e de transmitir sua arte.

O cineasta e fotógrafo Yann Arthus-Bertrand entrevistou duas mil pessoas em sessenta países para compor o maravilhoso documentário Humano, em que apresenta um painel sobre a diversidade e as semelhanças entre o que as pessoas sentem sobre temas tais como amor, felicidade, guerra, trabalho, pobreza, relações familiares, deficiências. Um depoimento impressionante foi o de um homem que perdeu as pernas. Ele diz: “Com isso, acabei aprendendo a ver melhor, a ouvir melhor e a perceber o mundo de outra forma a partir da perspectiva da minha cadeira de rodas. Se Deus aparecesse e me dissesse que me daria duas pernas novas de presente, eu agradeceria e diria que me sinto muito bem como estou agora”.

Como lidamos com nossas dificuldades, deficiências (todos nós temos algumas), desafios, problemas? O que é possível desenvolver a partir de uma grave limitação?

Os dois casos que mencionei são de limitações físicas. No entanto, o mesmo se aplica a outros contextos. Nessa época de recessão da economia, muitos estão se defrontando com graves limitações de orçamento, desemprego ou cortes/atrasos de salários. Desenvolver a flexibilidade mental para se ajustar às circunstâncias difíceis, reprogramar a vida, buscar alternativas possíveis para enfrentar a deficiência de recursos, aprender a viver melhor com menos. Estes são caminhos necessários para navegar pela crise sem se afundar no desânimo ou na amargura.

O depoimento que vi no documentário Humano está em: https://www.youtube.com/watch?v=w0653vsLSqE