Sempre achei graça ao ver esse adesivo colado no vidro traseiro de alguns carros. Mas, como terapeuta de famílias, cuidei de algumas famílias caóticas, em que as crianças faziam o que queriam com pais e avós impotentes, com dificuldades de colocar qualquer tipo de limite.
Recentemente, ao fazer trilhas em uma pequena cidade do interior, conversei com uma condutora ambiental que aceitava famílias com crianças para fazer alguns passeios. Enérgica e firme, ela me relatou algumas situações em precisou ser incisiva com crianças rebeldes e descontroladas.
“Estávamos fazendo uma trilha margeando um rio encachoeirado, dentro da mata. No meio do caminho, a menina de 12 anos empacou e disse que não iria mais andar, que eu a teria de carregá-la no colo. A mãe, com voz suave e nada convincente, implorava que a filha continuasse a caminhar. A menina, sentada em uma pedra com os braços cruzados e a cara amarrada, nem se movia. Nessa trilha, cada trecho do rio entre pequenas quedas d´água tinha uma placa com o nome de um animal. Por acaso, a menina empacou em frente ao “Rio da Onça”. Não tive dúvidas: cheguei perto dela e falei baixinho que iríamos continuar a caminhada e ela ficaria lá, correndo o risco de ver uma onça chegar para beber água. Comecei a andar devagar e fiz sinal para a família me seguir. Imediatamente, a menina se levantou e foi conosco. No final da caminhada a mãe perguntou o que eu tinha feito para a filha me atender tão prontamente”…
Em outra situação, uma família com os pais, a avó e dois meninos com bastões de madeira nas mãos entrou na agência onde ela trabalha para decidir qual passeio fariam. Pouco depois, os dois anunciaram que iriam quebrar uma das cadeiras. “A avó suspirou conformada, disse que eles já haviam quebrado muitas coisas em sua casa e que ninguém conseguia controlá-los. Os pais se entreolharam sem saber o que fazer, enquanto os dois meninos começaram a atacar uma cadeira. Eu me levantei, olhei sério para eles, e disse com a voz bem firme que eles não poderiam fazer isso, caso contrário, eu não os atenderia e todos ficariam sem passeio. Eles ficaram tão surpreendidos que nem ofereceram resistência quando eu tirei os bastões das mãos deles e os coloquei em cima da minha mesa, dizendo que, no final da conversa, eu os devolveria”.
Tenho um casal de filhos, mas nunca me senti vivendo uma vida selvagem. Fui criada com amor e disciplina e fiz o mesmo. Como terapeuta de família, já atendi muitos pais perdidos e confusos com crianças tirânicas e descontroladas. Inseguros, temendo serem vistos como autoritários, não conseguiam exercer a necessária autoridade parental. Para muitas crianças, aprender a controlar a impulsividade e a discernir entre ações adequadas e inaceitáveis é um longo processo. Para isso, precisam construir o freio interno do respeito pelo território alheio e perceber que nem sempre é possível fazer o que queremos na hora ou do jeito que desejamos. No início desse caminho, é essencial contar com o freio externo dos limites colocados com firmeza, coerência e consistência.
Belo texto Maria Tereza !
Trabalhando , também , com Crianças e Adolescentes, vejo a toda hora situações iguais a essas !
É um problema sério para essas crianças sem limites,
por que vão sofrer pela vida , o que os pais poderiam ter evitado ! Nas Terapias de Casais eles comentam o medo que têm de seus filhos se voltarem contra eles,
por isso acho fundamental que cada um dos pais tenha sua Análise ou Terapia individual , para entenderem o porquê de suas fragilidades , e se estruturarem emocionalmente para lidar com seus filhos , para lidar com a vida !
Obrigada, Alice! Lá se foi o tempo em que os filhos temiam o olhar dos pais. Agora, em muitas famílias é o contrário…
Pois é, da hora, maneiro e supimpa, meu muito obrigado e meus parabéns, na moral mesmo, de verdade!
Obrigada, Sávio!
Excelente abordagem Maria Tereza. Precisamos sempre renovar as nossas firmezas para não ceder aos ” caprichos” dos nossos filhos. Tenho um filho chamado Rodrigo,5 anos, que às vezes preciso ser incisivo para colocar limites…ele tem uma peesonalidade muito forte e ainda,às vezes, tem dificuldade de entender que não é ele que direciona as coisas dentro de casa. Quando quer uma coisa, procura argumentar de todas as formas para consegui. Por outto lado, é um filho carinhoso, atencioso e amoroso…e nos dá muitas alegrias. Ainda me considero um pai em construção e aprendo muito com ele, principalmente ter paciência, compreensão e firmeza.
Um abraço
Obrigada, Eliezer. Meus filhos já são adultos e ainda me considero uma mãe em construção. É uma linda troca de conhecimentos e de amor. Na idade do seu filho, ainda vigora a lei do desejo (“eu quero agora”!) e os limites vão construindo a lei da realidade – nem sempre temos tudo que queremos, na hora ou do jeito que desejaríamos.