Cinco dias em Mamirauá , a primeira Reserva de Desenvolvimento Sustentável brasileira, criada em 1996, me fizeram mergulhar em cenário de extrema beleza na época da cheia, em que a locomoção só é possível por barcos e canoas.
Com cerca de um milhão de hectares, a 600 km a oeste de Manaus, Mamirauá é também um centro de pesquisas sobre a biodiversidade, coordenado pelo Instituto Mamirauá, em Tefé (AM). Com pouco menos de uma hora de lancha, chega-se à Pousada Uacari, flutuando no Médio Solimões, que gera emprego e renda para as pessoas das comunidades situadas dentro da Reserva. Parte da renda gerada pela pousada destina-se ao financiamento de projetos comunitários e da vigilância ambiental da área.
Incrível ver a capacidade de adaptação ao contexto: formigas e cupins fazem suas casas no alto das árvores porque, na cheia, o rio sobe até 12 metros. Nas saídas de barco foi possível observar preguiças, diversos tipos de macacos, mucura xixica (marsupial que come as flores da munguba), iguanas, botos, jacarés, inúmeros pássaros e aves (martim-pescador, maritacas, periquitos, papagaios, surucunã de coleira, alicorne, jaçanã, arirana vermelha, cigana, gaviões).
Lamentei não poder nadar no rio, cheio de jacarés, piranhas e outros seres. Mas gostei de, nas canoas, tomar banho de chuva que cai torrencialmente por pouco tempo. E de entrar de canoa pela floresta alagada, com cipós enormes formando esculturas naturais, um santuário. É emocionante sair de barco à noite, ouvindo os sons da floresta, contemplando o céu estrelado e reverenciando toda essa grandeza.
Uma das saídas foi para visitar a comunidade São José. João, o guia comunitário, falou sobre a história e o estilo de vida do grupo, composto por treze famílias, sendo 27 crianças. Na década de 1970, “vieram os padres para estimular a gente a construir as casas próximas umas das outras para a gente se organizar” – conta ele. Cada comunidade tem um estatuto e elege um presidente por quatro anos. As decisões são tomadas pelo grupo.
Para cuidar da saúde, plantas medicinais. Uma agente de saúde visita semanalmente as comunidades e encaminha os casos que necessitam de atendimento especializado para um hospital em uma cidade que fica a meia hora de barco. As parturientes também são atendidas lá, não há mais a tradição de partos assistidos por parteiras.
Coletam água da chuva e a tratam com cloro para beber. A água do rio é para cozinhar, lavar, tomar banho. Não há tratamento de esgoto, nem internet, nem celular. Há um gerador a diesel, que funciona das 18 às 22hs.
Desde cedo, as crianças aprendem a nadar, remar e pescar. A comunidade conta com uma escola com uma única sala em que o professor dá aulas para crianças de 4 a 10 anos.
Sabedoria de um menino de sete anos, referindo-se ao grupo de visitantes: “Vocês falam demais! A gente precisa ouvir os pássaros, os bichos, as árvores”…
No último dia, a saída de barco foi para contemplar o pôr do sol no lago Mamirauá, que tem dez quilômetros de extensão, cerca de 35 metros de profundidade e 280 metros de largura. Nunca seca, e a pesca é proibida. Foi onde se implantou uma Estação Ecológica, em 1986. Contemplar o pôr do sol neste lago é um espetáculo de cores e de canto dos pássaros.
Maria Tereza
Eu nem sabiA da existência deste lago na Amazônia.Voce me acrescentou muito conhecimento com sua excelente descricão.Saudades 😘🌹😘🌹😘🌹😘
Enviado do meu iPhone
Obrigada, Cecília! Adorei conhecer esse projeto do Instituto Mamirauá e visitar mais uma vez a floresta amazônica, pela qual sou apaixonada!