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Essa imagem, da edição original de meu livro Histórias da vida inteira, corresponde a um texto sobre o medo de amar.

Os encontros românticos se sucedem, ambos parecem felizes e apaixonados. De repente ele diz: “Estamos nos vendo muito, e eu não quero compromisso”. E desaparece.

Ela, perplexa. “Como assim?! A gente gostava das mesmas coisas! A conversa era boa, o sexo era ótimo, e de repente… Será que ele arranjou outra”?

Com tanta oferta, inclusive dos aplicativos de encontros, muita gente pensa: “Se eu ficar estável com uma pessoa, quantas oportunidades vou perder”? Mas nem sempre é o medo de perder a liberdade de usufruir de tantas escolhas. É o medo de sofrer de novo se gostar muito. As marcas de desilusões anteriores, as histórias de rejeição e abandono pesam mais do que a esperança de reencontrar o amor.

Nas redes sociais, o número de “amigos” conta mais do que o que se ganha aprofundando relacionamentos em menor quantidade. Nos aplicativos de encontros também vale esse conceito de “quanto mais, melhor”? O celular cheio de contatos para a troca de mensagens é que dá popularidade e aumenta a autoestima? Ao final de um período em que vários encontros se sucedem e nenhum vai adiante, surge a frustração do vazio afetivo.

Na conversa com um grupo de amigos sobre esse tema, comentamos sobre o livro “Amores líquidos”, de Z. Bauman. Para ele, o modelo da sociedade de consumo que considera descartáveis objetos com pouco uso ou programados para durar pouco foi transferido para os relacionamentos amorosos que também se tornaram descartáveis e rapidamente substituídos por “modelos mais novos”.

Uma das participantes ironizou: “Os amores já passaram de líquidos, estão quase gasosos”…

Outra participante comentou que sua sobrinha, de 19 anos, que mora nos Estados Unidos, lhe contou que, na faculdade em que estuda, ninguém namora, só fica. Namoro é só quando está terminando os estudos: “Quando em uma festa um rapaz se aproxima e percebe que eu não quero ficar, a conversa acaba rápido e ele procura outra”.

Por outro lado, uma participante, com 63 anos, disse: “Minha vida está muito estruturada, tenho meus hábitos e uma casa com a minha cara. Meus filhos já saíram de casa e eu gosto de morar sozinha. Chego a pensar que seria bom ter um companheiro, mas não quero fazer concessões, quero que minha vida fique do jeito que está”.

Construir um casamento ou uma união estável requer acordos e ajustes de ambos os lados. Quando a relação é boa, os ganhos são maiores do que as renúncias. Mas a vida segue, como disse uma participante. Citou o caso de um amigo que, após mais de 20 anos de casado, vivia um “casamento morno” e se perguntou: “É isso o que eu quero para o resto da minha vida”? Não era. Sem medo de desfazer um compromisso de longa duração, apaixonou-se e há anos vive feliz com a atual companheira. Sem medo de compromisso.