Gosto muito de visitar jardins para contemplar a beleza. Gosto de caminhar devagar, apreciando detalhes de flores e a harmonia das cores nos canteiros. Amo árvores majestosas, generosas doando sombra. Nas que mais me impressionam coloco minhas mãos no tronco para sentir a energia que delas emanam, enquanto respiro o ar cheiroso. Aprecio os pássaros, cores e cantos. Gosto de fotografar essa beleza e compartilhar com os que querem apreciá-la.
Recentemente, fui ao Parque Amantikir – Jardins que falam, em Campos do Jordão (SP), na Serra da Mantiqueira.
Gostei de saber que Rubem Alves, um escritor que sempre admirei, foi um dos incentivadores para a criação desse jardim. No livro “Amantikir”, de Walter Vasconcellos, o criador do jardim, há citações do que Rubem Alves escreveu sobre como começou a cultivar seu próprio jardim: “Depois de uma longa espera consegui, finalmente, plantar o meu jardim. Tive de esperar muito tempo porque jardins precisam de terra para existir. Mas a terra eu não tinha. De meu, eu só tinha o sonho. Sei que é nos sonhos que os jardins existem, antes de existirem do lado de fora. Sozinhos, eles nada podem fazer. São como as canções, que nada são até que alguém as cante; como as sementes, dentro dos pacotinhos, à espera de alguém que as liberte e as plante na terra. Os sonhos viviam dentro de mim. Eram posse minha.
Um dia o inesperado aconteceu. O meu sonho fez amor com a terra e o jardim nasceu”.
Em seu livro “Paisagens da Alma”, Rubem Alves escreveu: “Amo aqueles que plantam árvores sabendo que não se assentarão à sua sombra. Plantam árvores para dar sombra e frutos àqueles que ainda não nasceram”. Eu também amo essas pessoas.
Não tenho terra para plantar jardins. Mas viajo para alguns lugares do mundo para contemplá-los. E sempre penso no cultivo do meu jardim interno em que cuido da terra para que os relacionamentos com os outros e comigo mesma floresçam e deem frutos a partir das sementes do amor, da gentileza, do sorriso, do abraço que comemora os bons momentos e conforta nos momentos difíceis. No livro “Amantikir”, o autor conta que passou muitos anos fazendo jardins em casas particulares e o quanto isso o frustrava porque poucas pessoas viam a beleza de seu trabalho. Compara esses jardins a banquetes apreciados por poucos – “Tantas flores sozinhas, tantas fotos não tiradas, tantas cores sem olhos que as vissem”. Daí nasceu o Parque Amantikir, visitado por milhares de pessoas.
Cuidar de um jardim dá trabalho. Muitas plantas precisam ser renovadas com frequência, de acordo com as estações do ano. Jardins são seres vivos e dinâmicos, como as pessoas. Nosso jardim interior precisa de cuidados permanentes: cultivar amor, gratidão, alegria, generosidade, empatia e retirar as ervas daninhas do ódio, da inveja, da mágoa, do rancor e da intolerância que sufocam e podem até matar amizades e amores.
Referências:
Amantikir – de Walter Vasconcellos – à venda no Parque Amantikir.
Paisagens da alma – Rubem Alves, ed. Planeta, SP, 2013.