A conversa com um grupo de educadoras e fonoaudiólogas foi muito produtiva, passando por temas que mais chamam a atenção no contato entre professores, alunos e suas famílias.
Começamos pela incoerência dos adolescentes da “geração saúde” que querem alimentos orgânicos, sem glúten e refeições balanceadas mas, para esculpir um corpo “sarado”, recorrem a anabolizantes e, para enfrentar a timidez e “entrar na onda”, abusam do álcool nos programas de finais de semana e nas festas (há as que incluem uma ambulância na porta, para atender os jovens que se excederam na bebida!). Famílias que se preocupam com a ingestão de álcool acham difícil controlar o acesso à bebida quando seus filhos adolescentes vão para a “pré-festa” na casa de amigos cujas famílias liberam o bar.
Com as crianças, vemos modos diferentes de lidar com a questão da alimentação. As famílias que batalham pela criação de bons hábitos alimentares não permitem que as crianças levem, para o lanche escolar, doces, refrigerantes ou salgados com corantes, gorduras e baixo teor nutritivo. Com o troca-troca das merendas, a criança da “comida saudável” fica excluída e tentada a pegar as migalhas que sobram das “porcarias” dos lanches dos colegas. Por outro lado, as crianças cujas famílias não se preocupam com a diversidade de alimentos necessária para o bom crescimento, podem apresentar deficiências nutricionais que prejudicam inclusive o rendimento escolar.
O ato de se alimentar é carregado de conteúdos emocionais. A dupla mãe-bebê bem sintonizada na amamentação transmite à criancinha o prazer do alimento que sai do corpo materno, a sensação de segurança e de aconchego. No desmame, a gradual introdução de novos alimentos pode estimular a curiosidade para descobrir novos sabores e texturas. As famílias que relutam em deixar a criancinha brincar com o alimento (porque faz muita sujeira ou pelo receio de que acabará comendo pouco) restringem a autonomia, a curiosidade e a riqueza sensorial (sentir nas mãos texturas diferentes, cheirar a comida, introduzir o alimento na boca com as próprias mãos).
Essas restrições ou a pressa de dar as refeições para a criança por conta da falta de tempo podem criar resistências e inibir o prazer de comer. A criança vai criando barreiras, recusando vários tipos de alimentos e, com isso, instalam-se tensões e conflitos com a família.
Os jogos de poder encontram terreno fértil e, quase sempre, a criança percebe que é vencedora porque consegue preocupar ou exasperar os adultos quando se recusa a comer. Estes recorrem a chantagens, promessas, castigos. Em vão. Ou se rendem à tirania da criança, que exige que a comida seja feita como ela quer e até obriga os adultos a deixá-la comer vendo TV, ouvindo histórias ou correndo pela casa. Curiosamente, essa mesma criança pode comer bem na casa de outras pessoas ou na escola.
Quais são os hábitos alimentares da família? Como se organizam os horários das refeições? São momentos de encontro e de contato, ou cada um come sozinho em seu canto? Comumente, algumas mudanças na rede das relações familiares resulta em mudanças expressivas no comportamento da criança com relação à alimentação. Afinal, alimentar-se bem é um aspecto fundamental da aprendizagem de cuidar bem de si mesmo.