– Paulinho, quero te apresentar uma amiga minha que se separou! Uma mulher maravilhosa, inteligente, simpática, gosta das mesmas coisas que você, e até o signo combina!
– Qual a idade, Cíntia?
– Só quer saber isso, cara? Bem, como nada é perfeito, eu digo: tem 48, mas é bonitona, um mulherão! Falei de você, ela ficou muito interessada em te conhecer!
– Não precisa nem se dar ao trabalho de me apresentar…
– Paulo, você já está com 63! Qual o problema de conhecer uma mulher de 48?
– Cíntia, se você é minha amiga de verdade não deveria dizer a minha idade nem pra mim mesmo!
– Tudo bem, se você prefere cultivar preconceito até com você mesmo, só lamento…Tô indo!
Na Teia dos preconceitos é um dos textos que eu enceno em Teias. Quando abro a conversa com a plateia após a apresentação, o tema do preconceito se destaca. No decorrer da vida, internalizamos grande parte dos preconceitos que vigoram na sociedade e, muitas vezes, os reproduzimos até mesmo sem percebê-los.
“É uma ótima pessoa, apesar de ser negro!” – revela o racismo de quem jura não ser preconceituoso. “Ele disse que quer me namorar, mas é quinze anos mais novo… Seria ridículo, não acha?” – diz a mulher cujo preconceito censura seu desejo.
Quando a sociedade evolui no sentido de conviver melhor com as diferenças, os episódios de discriminação se atenuam. Há algumas décadas, filhos de “desquitadas” não eram aceitos em colégios tradicionais e eram impedidos de brincar com crianças de “lares bem constituídos”. Quando se tornou evidente que é possível construir lares harmônicos ou desarmônicos em qualquer tipo de família, o convívio entre crianças de diferentes composições familiares fez com que muitas escolas substituíssem o “Dia das Mães” e o “Dia dos Pais” pela comemoração do “Dia da Família”.
Com isso, as novas gerações passam a perceber que o essencial é o compromisso de amar e de cuidar. Com isso, as crianças podem se desenvolver bem em famílias com pais casados, separados, que nunca se casaram, que abrigam três gerações na mesma casa, que incluem filhos de diferentes uniões, que adotam bebês, crianças maiores ou adolescentes.
O processo de superar preconceitos é longo e difícil. Nem mesmo as mudanças da legislação refreiam totalmente os episódios de discriminação e os crimes, como acontece com o racismo e a homofobia. Ataques de ódio pelas redes sociais, agressões físicas e assassinatos ainda acontecem em proporções alarmantes, tendo como alvos preferenciais as pessoas negras e as que se envolvem em relações homoafetivas. Exclusão e humilhação ferem a autoestima dos que não se encaixam nos rígidos padrões do que é considerado aceitável, porque “já passou da idade”, tem nariz muito grande ou está acima do peso ideal. Os preconceitos que internalizamos deformam nosso olhar, restringem nosso espaço vital, e geram uma crescente aridez emocional.
Os preconceitos nos aprisionam
Limitam muito as nossas escolhas
E nos impedem de aproveitar
Os presentes que a vida nos traz