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Os aspectos que mais me chamaram a atenção nesse filme foram os depoimentos de ex-executivos das principais empresas de tecnologia, inclusive os que colaboraram para a construção das principais redes sociais que utilizamos, revelando a preocupação por terem criado um “Frankenstein digital”.

Os algoritmos, por meio da aprendizagem de máquina, estão cada vez mais eficientes para controlar a maneira como nos informamos, inserindo anúncios de acordo com nossas preferências e desejos, a partir dos dados que fornecemos, dos sites que consultamos e de todas as atividades que fazemos online. O que parece ser oferecido gratuitamente nos transforma em produtos a serem vendidos para os anunciantes. E os algoritmos saíram fora do controle…

Nesse modelo de negócios, o interesse é prender nossa atenção ao máximo, não só nas redes sociais como nos videogames. Em uma publicação da Sociedade Brasileira de Pediatria, há um histórico da evolução desses jogos: inicialmente era uma brincadeira, mas isso foi se tornando cada vez mais sedutor, com muito movimento, cores e sons, além de técnicas refinadas de persuasão que atiçam a curiosidade e o desejo de obter recompensas nas diversas etapas irresistíveis e desafiadoras. Com isso, torna-se difícil desgrudar da tela, dia e noite, jogando sozinho ou com amigos em competições, tornando cada vez maior o risco de cair na compulsão.

E o problema tornou-se ainda maior: os algoritmos, com base em informações que nem sabemos que enviamos, selecionam o conteúdo a que teremos acesso nas redes sociais. Com isso, ficamos presos em “bolhas” que reforçam nossas crenças e pontos de vista. Comentários polêmicos e agressivos costumam gerar mais “engajamento”, incentivando as redes de ódio e a polarização do “nós” contra “eles”. Isso vai muito mais longe: a tecnologia desagregando a sociedade, a internet como instrumento de manipulação política.  

Houve uma declaração desses profissionais que me chamou a atenção: eles não permitem que seus filhos fiquem “soltos” nas redes, sabendo dos riscos envolvidos e dos prejuízos para a saúde. E os adultos precisam ficar mais alertas para usar as redes sem serem tão usados por elas.

A partir do intenso debate sobre esse filme, convidei para uma Live no Instagram (gravada no IGTV de @mariatereza_maldonado), a Dra. Evelyn Einsenstein médica pediatra e clínica de adolescentes, com muitas publicações sobre a impacto da atividade digital no desenvolvimento de crianças e adolescentes.  

Ela sinalizou que o excesso de “telas” resulta em problemas de sono, visão, audição, postura e comportamento. É recomendável que crianças de até dois anos não tenham acesso às telas. Entre dois e três, no máximo 15 minutos por dia, com acompanhamento. E redes sociais só a partir de 13 anos. Menos telas, mais saúde.

Muitos pais estão, eles próprios, conectados em excesso, a ponto de os próprios filhos reclamarem da ausência de contato presencial, olho no olho. Com isso, não acompanham a vida online dos filhos que ficam expostos à ação dos predadores que se infiltram nas redes dos adolescentes, entre outros riscos.

Na pandemia, muitos estão fazendo uso constante e quase ininterrupto das telas para trabalhar, estudar, entrar em contato com pessoas da família e com amigos, fazer compras. Com os adultos trabalhando de casa e as crianças com aulas online, é preciso estabelecer uma rotina que contemple períodos em que todos estejam conectados uns com os outros (e não com as redes), como no horário das refeições e em atividades lúdicas.

Existe um mundo além das telas!