Viver a vida em plenitude ao encarar a morte! Fiquei emocionada ao ler o depoimento de Oliver Sacks, famoso neurologista, autor de muitos livros para o grande público. Ele escolheu viver cada dia que lhe resta da melhor forma possível, ao ser surpreendido por metástases no fígado, sem chance de cura.
Diante disso, conseguiu rever sua trajetória de modo mais amplo e profundo, priorizando o amor, a amizade e a gratidão por tudo que encontrou no caminho. Diz que isso lhe propicia uma intensa vitalidade, mesmo estando cara a cara com a morte. E o ajuda a se desligar do que não é essencial para se aprofundar no que verdadeiramente importa.
Avós, pais, quase todos os tios, alguns primos e amigos muito queridos não estão mais por aqui. Alguns morreram repentinamente – a vida é um sopro. Sentados em uma poltrona, dormindo na cama, durante uma conversa animada, em acidentes trágicos – subitamente fizeram a passagem para outro plano da existência. Acompanhei outros que se despediram lentamente dessa vida, na via-crucis de tratamentos, cirurgias e muito sofrimento.
Uma amiga querida dizia: “Quando o corpo padece, a alma cresce”. Eu via isso acontecendo, na profundidade crescente do seu olhar. Outra amiga, em lenta agonia, conversava comigo sobre a fragilidade da nossa embalagem carnal e a força do espírito mergulhando em nosso interior, fazendo as revisões necessárias para evoluirmos, aprofundando os vínculos significativos.
A perda da presença física das pessoas amadas fortalece meu sentimento por elas, que continuam a viver dentro de mim, nas lembranças das histórias compartilhadas, nas conversas que tecemos, na companhia que desfrutamos em trechos da estrada da vida. Não sabemos quando o último grão de areia vai escorrer para o outro lado da ampulheta do nosso tempo nessa vida. Essa incerteza me faz olhar cada dia como um presente, que procuro aproveitar da melhor forma possível.
Sim, a vida nos reserva a cada dia uma beleza maior, mas que nós, na maioria das vezes, devido a correria do dia a dia, não enxergamos. Precisamos ter tempo para ver o que há de bom na vida e saber aproveitar cada momento, que sabemos será único.
Pois é, Sônia, quando não temos tempo, podemos criar tempo modificando prioridades!