“Eu me separei há um ano e, no fim de semana passado, minha filha foi para a casa do pai, que apresentou a namorada. Ela voltou chateada, e quis dormir na minha cama. Será que eu deveria falar com ele para evitar o contato da menina com essa namorada? Não quero que minha filha sofra”!
Proteger os filhos de todo e qualquer sofrimento é missão impossível. E desnecessária. Tristeza, frustração e decepção fazem parte da vida desde os primeiros anos de vida. Tiramos da mão da criancinha um copo de vidro que ela pegou antes que pudéssemos evitar, e ela chora desconsolada com essa frustração. A melhor amiga escolhe outra criança para ser a “melhor amiga”: essa rejeição provoca grande sofrimento. Ela se apaixonou por um garoto, mas descobre que está interessado por outra: essa decepção provoca uma tristeza profunda.
Estimular crianças e adolescentes a criar recursos para atravessar o sofrimento e se fortalecer com ele é instrumento básico de sobrevivência em um mundo cada vez mais instável, incerto e imprevisível. Escutar com sensibilidade a expressão da tristeza, da desilusão e da frustração transmite acolhimento e segurança. Em seguida, é o momento de vislumbrar outros caminhos para se adaptar às mudanças inevitáveis e aproveitar o que há de melhor em cada circunstância.
A transição para outro tipo de composição familiar envolve sofrimento, mas é possível estruturar dois lares harmônicos. Nesses lares, os filhos se sentem bem cuidados por pai e mãe que deixaram de compor um casal. É claro que há áreas de risco na separação, quando os sentimentos de mágoa e decepção se transformam em ódio e desejo de vingança, intensificando os ataques recíprocos entre os ex-cônjuges. Isso coloca crianças e adolescentes no meio da linha de fogo e gera um sofrimento que poderia ser evitado se os adultos colocassem em primeiro plano a responsabilidade compartilhada de criar os filhos da melhor forma possível.
Há circunstâncias mais dramáticas de sofrimento intenso pelas quais milhões de crianças e adolescentes em todo o mundo estão passando em zonas de guerra, em migrações decorrentes de desastres climáticos, em campos de refugiados, em comunidades nas quais predomina a linguagem da violência e da barbárie. Muitos ficam profundamente traumatizados com esses sofrimentos devastadores. Outros conseguem desenvolver resiliência – a capacidade de criar recursos para enfrentar adversidades – e encontram saídas para situações desesperadoras. E há os que, criando força para a superação, desenvolvem a solidariedade e ajudam outras pessoas em situações semelhantes a criar recursos para enfrentar o sofrimento e construir a melhor vida possível.
Maravilha! Adoro seus textos, são simples e esclarecedores!
Beijo!
Claudia Scheidegger.
Obrigada, Claudia! Gosto de saber que o que eu escrevo contribui para boas reflexões.
é ótimo ver o produto de anos de estudos e experienca traduzido assim para proveito de muitos! Sucesso no seu propósito ! abs Eleanora Benedetti
Obrigada, Eleonora! Você e os demais leitores podem se sentir à vontade para sugerir temas para o blog!
Como sempre, Maldonado, seus textos sempre acrescentam. Eu adorei quando vc falou da resiliência, ela é muito importante nas nossas vidas, mas poucos a conhecem e por isso não fazem uso da mesma.
E sempre bom ver suas colocacoes. Nao podemos e nem devemos interferir na experiencia do outro, ainda que seja um filho. Podemos sim estar junto.
Pabens pelas suas colocacoes, Maria Tereza.
Obrigada, Sônia! Pretendo escrever outro texto para aprofundar esse conceito da resiliência, tão essencial para viver no mundo atual.
Obrigada, Maria do Carmo! A tentação de interferir é enorme, mas vale o esforço de respeitar as diversas visões e permanecer junto.