Maurício, 4 anos, fez essa pergunta ao ver a avó começar a recolher os pratos da mesa, após o almoço de domingo.
Se a casa é de todos, todos colaboram. Essa participação pode começar quando a criança é pequena, para construir desde cedo a noção do valor da cooperação na “equipe de família”. O desenvolvimento da solidariedade segue pelo mesmo caminho, inclusive na relação entre irmãos.
Assim que saiu da maternidade com o recém-nascido, Ana Lúcia começou a pedir a Pedro, de 3 anos, para ajudá-la a cuidar do irmãozinho, estimulando-o a fazer pequenas tarefas que estavam ao seu alcance. Isso ajuda a “digerir” o ciúme, integrando todos no circuito familiar, para atenuar o sentimento de ser excluído ou preterido.
Criar tempo de convívio em família propondo atividades que envolvem a participação de todos é um convite para desenvolver a colaboração e boas conversas, por exemplo, na cozinha em que todos preparam uma refeição no final da semana.
Conhecer e, se possível, colaborar com algumas tarefas no ambiente de trabalho dos pais pode ser uma boa experiência no fortalecimento da colaboração. Eu tenho boas lembranças de atender pessoas no balcão da padaria que meu pai gerenciava quando eu era criança (nada a ver com exploração de trabalho infantil)! Luiz, pai de meninos de 10 e 12 anos, começou a levá-los uma vez por semana para o restaurante em que trabalha, com o propósito de fazê-los observar a importância de uma equipe que atua em colaboração para que os clientes sejam bem atendidos.
A colaboração é essencial para o bom convívio na família, na escola e no trabalho. E também para a vida em comunidade. No entanto, muitos adultos não percebem a importância da colaboração individual para o bem-estar coletivo. Presenciei uma cena em que uma senhora, elegantemente vestida, jogou lixo na calçada. Uma moça que passava a seu lado, apontou para uma lixeira próxima. Indignada, a senhora contestou:
– Os garis são pagos para limpar as ruas!
Conheço muitos adolescentes e jovens adultos extremamente conscientes de seus direitos e muito tranquilos com sua total falta de colaboração. “Meu pai paga a empregada, então é ela quem tem de recolher a roupa que eu deixo espalhada pela casa e esquentar a comida quando eu chego da faculdade” – afirma Mateus, achando muito natural que todas essas mordomias lhe sejam oferecidas. Na época em que eu trabalhava como voluntária coordenando grupos de mulheres em comunidades, muitas diziam que nem os filhos nem os companheiros participavam das tarefas domésticas. Uma delas desabafou:
– Chego do trabalho exausta, e ainda tenho que fazer comida e cuidar da roupa de todos eles. Minha filha, de vinte anos, não lava nem as próprias calcinhas!
Esta ideia de distribuir as tarefas é muito importante e deve incluir todos da família. Se as tarefas são feitas em conjunto, deixam de ser cansativas, pois enquanto são desenvolvidas pode-se discutir um assunto de interesse de todos, lembrar algo engraçado que aconteceu e assim, quando menos percebemos já está tudo pronto.
As crianças sempre querem participar, mas os adultos “senhores sabe tudo” na maioria das vezes não permitem que elas o façam, principalmente se do sexo masculino, e assim crescem sem ter a menor ideia do que é arrumar sua cama ao acordar, guardar seus pertences quando chegam da escola ou mesmo ajudar nas tarefas cotidianas, que sabemos não são poucas.
Com homens e mulheres no mercado de trabalho, cuidar da casa é tarefa de pessoas, e não mais apenas da “dona de casa”. E a partilha pode ser oportunidade de encontro lúdico, em vez de ser sobrecarga.