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O que nutre e o que prejudica o relacionamento amoroso? (Fotografei em Pacoti, CE)

Esse foi o tema de um trabalho de grupo que coordenei com minha filha, que é médica ginecologista. Para abrir a conversa, a leitura de “Calmaria”, um dos textos de nosso livro Palavra de mulher, que aborda a questão de um casal com quarenta anos de convivência, em que ela relata que sente “preguiça de fazer sexo”, embora sinta prazer em abraçá-lo no sofá da sala, saborear o chá quente que toma sem pressa, sentir a água morna deslizando pelo corpo na hora do banho.

Em alguns relacionamentos duradouros, o sexo passa a ser menos importante do que o prazer da companhia, a cumplicidade, a história construída, os interesses em comum, a possibilidade de se divertirem juntos. Mas há casais maduros em que o sexo continua sendo muito prazeroso, em especial quando se abre espaço para refinar a sensualidade e o erotismo com criatividade, estimulando o tato, a visão, a audição, o paladar e o olfato com toques, carícias, massagens com óleos aromáticos à luz de velas, que criam um ambiente acolhedor e abre múltiplos canais de prazer sensorial.

Outro tema importante foi ver como cada um cuida da relação, como um “terceiro elemento” construído pela interação que brota da individualidade de cada um. É mais comum reclamar, criticar e cobrar do outro o que achamos que precisaria acontecer para melhorar a qualidade do relacionamento, em vez de perguntar a si mesmo: “Como estou contribuindo para nossas dificuldades e o que posso fazer para melhorar nossa comunicação”? Como cada um cuida ou descuida da relação? Em vez de, enraivecidos, trocarem acusações recíprocas, como podem perceber o que fazem para criar um convívio infernal e assumir a responsabilidade por suas próprias ações?

Mágoas, ressentimentos, frustrações, decepções e maus tratos esfriam o prazer de estar juntos. Controle e ciúme excessivo refletem insegurança e medo de perda, tolhendo a liberdade e a individualidade do outro. Esperar do outro mais do que ele pode oferecer (“ele é meu marido, meu pai, meu irmão, meu amigo”) é caminho certo para a frustração e a insatisfação.

Um relacionamento construído com o amor que se expressa em cuidados recíprocos e cooperação inspira uma sexualidade em que há uma rica troca de energias profundas e sutis que nutre alegria e bem-estar.

Sim, pode haver amor sem sexo e sexo sem amor. Acontecem relacionamentos paralelos, em diferentes níveis de afeto e de prazer sexual. Há os adeptos do “swing” que, dessa forma, “apimentam” o casamento. Há os que vivenciam o poliamor, construindo uniões estáveis com mais de duas pessoas. As teias do amor e da sexualidade são multifacetadas.