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A conversa com Amarildo, que fotografei em Igatu (BA), revelou uma trajetória de vida muito peculiar.

Como psicoterapeuta, sempre me fascinei acompanhando trajetórias de vida. Como construímos nossas vidas a partir de nossas escolhas e de como reagimos ao inesperado, ao imprevisível? O que fazemos com o que fazem conosco? Abandonamos um sonho ou um projeto por conta do medo de não dar certo? Em que extensão lamentamos nossos erros em vez de aprender com eles?

Ao entrevistar pessoas de várias cidades brasileiras para minha pesquisa sobre construção da felicidade e do bem-estar, tenho encontrado trajetórias de vida muito peculiares. A conversa com Amarildo, 52 anos, foi marcante. Ele mora em Igatu (BA), que, no dia em que o entrevistei, tinha 381 habitantes, mas, naquela noite, provavelmente nasceria o próximo morador. Há 21 anos, ele escreve (à mão, não gosta de computador nem de celular) sobre os acontecimentos do dia a dia dessa comunidade e, dessa forma, registra a história da cidade e de sua gente. Sabe quem nasce, quem morre, quem chega, quem sai, quem se casa, quem se separa.

Filho de um garimpeiro e de uma dona de casa, tem dez irmãos. Lutou contra a timidez para conseguir ser professor. Mora com a esposa e uma filha, e montou uma pequena loja em sua própria casa, em cuja porta está escrito “Entre e compre alguma coisa”. Faz questão de andar sempre bem arrumado para inspirar outras pessoas a fazerem o mesmo. Metódico e perfeccionista, confecciona à mão relatos sobre sua vida, inclusive como fã ardoroso de Xuxa e de Roberto Carlos, e os vende para os interessados. Diz que é feliz porque faz o que gosta.

Cada escolha que fazemos e cada maneira de reagir ao que a vida nos apresenta define uma parte de nossa trajetória e exclui muitas outras possibilidades. Acho útil, de tempos em tempos, fazer uma reflexão sobre a trajetória que estou construindo. Onde quero chegar? O que ainda faz sentido e do que preciso abrir mão? O que realmente importa nessa etapa de vida em que me encontro? De que outras formas posso olhar para o meu passado e descobrir novos significados? São perguntas que estimulam a reflexão e aprofundam o autoconhecimento.