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Não é fácil se aproximar de gente que usa os espinhos da “encrenca” (Fotografei no Jardim Botânico, RJ).

Conheço pessoas que gostam de ficar em evidência criando confusão, tecendo intrigas, colocando uns contra os outros. É uma espécie de prazer perverso, que confere o poder de atazanar a vida dos outros.

Quando trabalho com professores, muitos trazem questões envolvendo o relacionamento entre alunos. Os que são escolhidos como alvos pelos “encrenqueiros” são atingidos por fofocas, boatos, agressões verbais pesadas, tudo amplificado nas trocas de mensagens e nas postagens em redes sociais. “É liberdade de expressão: se eu não gosto dessa menina, tenho direito de mostrar isso como eu quiser” – é o argumento mais comum, que confunde franqueza com grosseria. “Ouvi dizer e espalhei” – sem a menor preocupação com relação à veracidade da informação, em uma época de avalanche de notícias falsas atualmente chamadas de “fatos alternativos” ou “pós-verdades”. É árduo o trabalho de desenvolver na garotada a empatia e a habilidade de expressar o que pensa e sente sem humilhar e maltratar os outros.

Professores da Educação Infantil, em especial, relatam dificuldades no relacionamento com as famílias que atuam como adversárias da equipe escolar, em vez de construir a parceria necessária. As “mães do whatsapp” fotografam de imediato a mordida que o coleguinha deu no filho, compartilham com a rede tecendo críticas demolidoras à escola que nada fez, estimulando a onda de indignação coletiva, reclamações nem sempre pertinentes, porque não consideram que essa manifestação de raiva entre crianças pequenas acontece de modo tão instantâneo que nem sempre é possível evitar. Mas revela a importância de começar a trabalhar a solução não-violenta de conflitos desde cedo.

Nas famílias, a encrenca acontece, por exemplo, entre irmãos. Ciúme e competição pelo lugar de destaque motivam a “brincadeira da gangorra”: para ficar por cima, precisa colocar o outro para baixo. “Ele me bateu” e o mais velho é repreendido e castigado porque ninguém percebeu a sutil provocação do mais novo que deflagrou a raiva do irmão. Tensões entre sogras e noras, competição entre cunhados também geram intrigas e mal-entendidos que fazem um “trabalho de cupim” corroendo as estruturas dos relacionamentos na família extensa. Isso revela a necessidade de mediadores de conflitos que possam neutralizar as ações do “espírito de porco” e restaurar a convivência razoavelmente harmoniosa entre todos.

No âmbito do trabalho, a inveja e a competição motivam encrencas destinadas a derrubar os que são vistos como adversários. Alianças com os que ocupam cargos mais altos na hierarquia, disseminação de notícias falsas, vale tudo para “destruir a concorrência”. Isso acaba criando mal-estar na equipe. Trabalhar no sentido de aprimorar a própria competência sem precisar apagar o brilho do outro e elaborar noções básicas de ética nas relações de trabalho são as ações necessárias.