Quem bate argumenta que está “atendendo pedidos”. Na verdade, o cérebro imaturo da criança faz com que a autorregulação do desejo e da raiva vinda da frustração dos desejos seja um processo demorado. “Eu quero agora!” – a lei do desejo – cede, pouco a pouco, o lugar para construir a ponte que conduz à lei da realidade: “Nem sempre tenho tudo que quero, na hora ou do jeito que eu desejaria”. O “pedido” não é por palmadas, mas por limites claros, coerentes e consistentes que ajudam a criança a construir o freio interno que é a autodisciplina e a capacidade de cuidar bem de si mesma.
A Lei da Palmada, renomeada como “Lei Menino Bernardo” (PLC 58/2014) aguarda sanção presidencial, após ser aprovada pelo Senado, com o objetivo de proteger crianças e adolescentes de castigos físicos e humilhantes. Se a criança não atende, o que fazer em vez de dar palmadas? – é a pergunta de muitos pais. Se babás e professoras precisam desenvolver habilidades de comunicação para que as crianças façam o que precisa ser feito sem recorrer a castigos físicos, por que há pais que ainda acreditam em “palmadas educativas”?
Palmadas, gritos e tratamento humilhante revelam falta de recursos mais eficientes e menos danosos para a formação da criança. As escolas de pais e os inúmeros blogs que agregam milhares de mães e pais para trocar ideias e experiências sobre os desafios de lidar com as crianças no dia a dia contribuem para compreender melhor as fases do desenvolvimento e aprimorar recursos de manejo.
Atitudes de provocação e desafio das crianças enraivecem muitos adultos, mas entrar no circuito de gritos e palmadas para se fazer obedecer pode resultar em escalada de agressividade que prejudica a boa qualidade do convívio. Em casos extremos, resulta em relacionamentos familiares violentos, em que as crianças passam a ser vítimas de maus tratos.
Conversar com a criança, dando a ela a possibilidade de dizer o que pensa e sente; fazer “combinados” com as respectivas consequências quando não forem cumpridos; estimular a criança a descobrir alternativas viáveis para aceitar o “não” que frustra um desejo seu; desenvolver a combinação de firmeza com serenidade ao colocar os limites devidos, olhando nos olhos da criança; lembrar que fazer ameaças que não serão cumpridas acabam com a credibilidade da palavra. Esses são apenas alguns dos muitos recursos para educar e favorecer o desenvolvimento da autonomia com responsabilidade, em clima de amor e de respeito.