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Coral cérebro, que fotografei ao mergulhar em Abrolhos

Coral cérebro, que fotografei ao mergulhar em Abrolhos

Dizer que os adolescentes são “aborrescentes” é limitar nossa visão a respeito dessa fase do desenvolvimento que abre novos horizontes de descobertas, experimentação, criatividade, ousadia. Essa visão preconceituosa dos adolescentes como pessoas complicadas, incomodamente questionadoras que adoram tumultuar a ordem estabelecida nos impede de estabelecer com eles uma relação de entendimento e aprendizagem recíproca, aprofundando o abismo do “conflito de gerações”.

Dan Siegel, um psiquiatra americano que trabalha com a neurobiologia dos relacionamentos, diz que nosso cérebro é um órgão social. Nascemos para nos vincularmos com os outros, e a qualidade dos vínculos que construímos no decorrer da vida influencia nossa arquitetura cerebral. Em seu livro sobre as mudanças do cérebro na adolescência, mostra que o desenvolvimento do córtex pré-frontal conecta o córtex com o sistema límbico e com o tronco cerebral. Tem função integradora, que promove a saúde emocional.

No adolescente, essa função da integração é o principal marco do desenvolvimento cerebral. Com a integração, atingimos um novo patamar de desenvolvimento. Por isso, o córtex pré-frontal (que alguns autores definem como “gerente geral do cérebro”) é tão importante. Remodela o cérebro para continuar o desenvolvimento até a juventude. Quanto mais integrado o cérebro, maior a harmonia e a resiliência da pessoa.

No entanto, na adolescência, é frequente a exposição a riscos, que aumenta a propensão a acidentes. As taxas de homicídio e suicídio também são significativas nessa faixa etária. Apesar do desenvolvimento gradual do córtex pré-frontal, o sistema límbico é mais influente: torna-se difícil controlar as emoções. Boa parte dos adolescentes reage a comentários neutros como se fossem hostis, agem de modo impulsivo e explosivo. Por outro lado, os adolescentes se apaixonam por pessoas e ideias, intensificam o engajamento social. É grande a influência do grupo de amigos para desafiar os riscos e também para colaborar.

Nessa fase da vida, o cérebro é motivado por novidades, devido às mudanças no sistema da dopamina. Os adolescentes facilmente se entediam, anseiam por novas experiências, testam os próprios limites e, por isso, correm riscos, apesar de serem bem informados. Acham que vai dar tudo certo: o perigo é para os outros, não para eles próprios.

Quando famílias e educadores conseguem ver a adolescência como uma época fantástica de desenvolvimento, descobrem caminhos de conversa reflexiva e transformam situações de conflito em possibilidades de aprofundar a conexão, o entendimento recíproco e a colaboração.

Referência: Dan Siegel, The power and purpose of the teenage brain, ed. Tarcher,NY, 2013.