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O medo da liberdade limita nosso espaço vital e nos impede de trilhar muitos caminhos. (Fotografei em Inhotim, MG)

O medo da liberdade limita nosso espaço vital e nos impede de trilhar muitos caminhos. (Fotografei em Inhotim, MG)

A personagem Pari, do livro O silêncio das montanhas” de Khaled Hosseini, cuidou da mãe doente e, tempos depois, passou a cuidar do pai que também adoeceu gravemente. Para isso, renunciou a entrar na universidade e recusou um pedido de casamento. A perspectiva da morte iminente do pai a deixa desnorteada. Como será sua vida, cuidando somente de si mesma? Diz: “Tenho medo de ser livre, apesar do meu grande desejo”. Com relação ao homem pelo qual se sentia atraída, confessa: “Entrei em pânico, enfim, e corri de volta para os recantos, as fendas e as reentrâncias da vida em minha casa”.

A liberdade para escolher como viver assusta muitas pessoas, que acabam cortando as próprias asas, o que impede voos mais ousados. Diante das escolhas possíveis, aciona o comando interno (“Não posso fazer isso”; “O que os outros vão pensar”?) que produz inúmeros argumentos para justificar infindáveis limitações.

Duas mulheres, na faixa dos 60 anos, conversavam sobre uma amiga em comum: “Tem tempo disponível e dinheiro suficiente para viajar pelo mundo, fazer o que quiser, e praticamente não sai de casa. Ah, se eu tivesse a metade do que ela tem”…

Há quem crie uma ilusão de segurança confinando-se em relacionamentos insatisfatórios, em empregos  frustrantes e em rotinas extenuantes. Alguns até acreditam que não há outras escolhas possíveis, a não ser permanecer nessa prisão que tolhe até a percepção de maiores perspectivas. “Essa é a minha vida, tenho que me conformar com isso”; “Agora é tarde demais para fazer grandes mudanças”; ” A gente vai levando, né”? – são frases que revelam o espaço apertado dessa prisão de segurança máxima construída no decorrer do tempo.

Para essas pessoas, a liberdade de optar por alternativas possíveis e correr o risco de mudar de rota traz uma angústia tão avassaladora que é preferível o desconforto resignado de acreditar que não há saída.

Mas, ocasionalmente, o desejo e a tentação de mudar rompe a barreira do medo ou, então, a própria vida nos dá uma chacoalhada e nos tira da zona de (des)conforto. E, aí, descobrimos que sair da prisão de segurança máxima nos dá mais oportunidades de desfrutar a alegria de viver, apesar dos riscos e das incertezas desse mundo.