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Califórnia 029

Com elementos simples, como a areia e as pedras desse jardim japonês que fotografei em San Francisco (CA), é possível construir uma bela obra de arte.

“Podemos fazer da nossa vida uma obra de arte” – disse uma participante do grupo que conversou sobre esse tema.

“Mesmo em situações de precariedade e de extrema dificuldade é importante buscar a beleza” – agregou outra participante.

“Qualquer trabalho pode ser feito com arte. Na época em que ainda era comum engraxar sapatos, conheci um engraxate que conquistava os clientes com a qualidade do seu trabalho e com a arte da boa conversa”; “E eu me encantei com uma cozinheira que enfeita os pratos com flores comestíveis”; “Eu estava em um vilarejo do interior e meu tênis se abriu. O sapateiro que me indicaram fez um trabalho artesanal da costura tão perfeito, que continuo usando o tênis até hoje e já se passaram quatro anos”! – foram comentários de outros participantes.

A arte pode transformar vidas. A conversa com um grupo de educadores após uma palestra contou com alguns depoimentos emocionantes, como o dessa professora de uma turma de alfabetização de jovens e adultos. “A violência era a linguagem predominante. Eu entrava na sala assustada, sem me sentir capaz de lidar com jovens tão agressivos. Até que, um dia, decidi falar sobre poesia. Um deles, alto e musculoso, perguntou se poderia ler o que ele havia escrito. Era um poema muito expressivo sobre a crueldade cotidiana na comunidade em que vivia. Esse foi o ponto de partida para uma transformação significativa daquele grupo. A arte, a sensibilidade e a afetividade foram, pouco a pouco, predominando sobre a linguagem da violência”.

Conheço projetos de escolas em comunidades com alto índice de violência que, ao abrirem nos fins de semana com a proposta de oferecer atividades artísticas e esportivas, propiciaram trocas de saberes entre alunos, famílias e comunidades, transformando a rede de relacionamentos de modo significativo, incluindo mutirões para restaurar áreas degradadas, organizar hortas comunitárias, grafitar muros.

A psiquiatra Nise da Silveira ousou tratar esquizofrênicos com amor e arte, em contraposição aos métodos tradicionais da época, como a lobotomia e o eletrochoque. A musicoterapia abre caminhos para tratar de problemas emocionais. A arte trata e cura.

Para colocar arte em nossas vidas é preciso exercitar a curiosidade, a criatividade e a ousadia. O medo da crítica dos outros, de sermos vistos como pessoas ridículas e uma autocrítica impiedosa tolhem essa possibilidade.