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No desabrochar de uma criança, há também crescimento naqueles que a amam. (Fotografei na Serra da Bocaina).

No Brasil, as famílias compostas por casais heterossexuais com filhos deixaram de ser maioria, como mostra o Censo de 2010 do IBGE. Correspondem a 49,9% dos lares. Famílias com somente a mãe ou o pai em casa, casais homoafetivos, lares compostos por avós e netos, famílias mosaico (formadas após uma ou mais separações) e outras composições que não correspondem ao modelo tradicional são, a cada ano, mais numerosas.

Por isso, os “laços de sangue” deixaram de ser considerados indispensáveis. É o afeto que tece os laços familiares, e forma a base do compromisso de amar e de cuidar.

Portanto, a gravidez acontece em diversos cenários em que os vínculos afetivos (nem sempre acolhedores e amorosos) começam a ser tecidos, e os recém-nascidos serão recebidos em diferentes composições familiares. As gestações podem ser planejadas e ansiosamente esperadas, podem ser inesperadas e indesejadas, ou “planejadamente acidentais” (quando o desejo inconsciente motiva o esquecimento ou o uso inadequado do anticoncepcional). A evolução da gravidez e o nascimento podem trazer alegria, desconforto, preocupação, ou até mesmo decepção (“nada saiu como eu esperava”). Sentimentos misturados e conflitantes (na esfera emocional as contradições coexistem) podem ser a tônica do relacionamento nos primeiros meses de vida (“para minha surpresa, fiquei muito deprimida nas primeiras semanas após o parto”).

Essa rede de relacionamentos é complexa e multifacetada. Por isso, não cabem as imagens idealizadas de permanente paz, amor e harmonia. Também há momentos de cansaço, confusão, irritação, desespero, desalento. As pessoas vivenciam tudo isso quando chegam as criancinhas, que mexem profundamente nas histórias de todos os membros da família.

É importante que tudo isso seja dito e ouvido com atenção e sensibilidade para que seja possível superar preconceitos e deixar de lado a ilusão de que tudo aconteça “como manda o figurino”.