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Os compradores compulsivos se enchem de coisas desnecessárias, e não se desapegam dos itens que acumulam. (Fotografei em Bruxelas)

O ser humano nasce desamparado, dependente, incapaz de sobreviver se não tiver alguém que cuide dele. Pouco a pouco, desenvolve autonomia: para isso, é necessário amparar os primeiros passos, mas também deixar a criancinha cair e aprender a se levantar sozinha. Na nutrição do vínculo, é sutil o equilíbrio entre o apego que fortalece a sensação de estar amparado e sendo amado e o desprendimento que evita a superproteção, a dependência excessiva e simbiótica.

O apego a bens materiais é a vã tentativa de suprir um vácuo na relação do amparo primordial, que transmite segurança e forma a base da autoestima e da autoconfiança. Todos nós precisamos do olhar do outro para nos sentirmos aceitos e reconhecidos.

Os compradores compulsivos se enchem de coisas desnecessárias, e não se desapegam dos itens que acumulam. Rodeados de objetos, criam a ilusão de completude, de que nada lhes falta. Porém, de nada podem abrir mão porque “um dia, posso precisar dessas coisas”.

Para combater o consumismo, muitos estão promovendo “sessões de desapego”, doando ou trocando objetos e expandindo a noção de que temos uma infinidade de coisas de que, na verdade, não precisamos.

Escolher o que é realmente essencial e o que é dispensável pode inspirar ações como a de Margot, que acumulou centenas de objetos que adquiriu em suas inúmeras viagens ao redor do mundo, além dos presentes que ganhou dos amigos. Para comemorar seus 70 anos, arrumou a maioria desses objetos em uma grande mesa, convidou os amigos e disse que poderiam levar com eles o que quisessem. Preferiu guardar as lembranças somente na memória.

Cultivar relações significativas de amor e de amizade é vital para a construção do bem-estar que nos possibilita enfrentar situações difíceis e celebrar a vida em suas diversas etapas. O abraço do aconchego, que ampara, conforta, acolhe nos momentos difíceis e nos inunda de alegria nos bons momentos de encontro.

Mas há quem cultive o desapego nos relacionamentos, pelo medo de amar e de ser abandonado, de precisar do outro e não poder contar com ele. E então se refugia na crença de que não precisa de ninguém.

E, para alguns, o mais difícil é se desapegar de ideias, de símbolos de status, do poder conferido pelo cargo que ocupam.