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É preciso cuidar da vida desde seu início, para que possa florescer (Fotografei no Jardim Botânico, RJ).

Os primeiros 1000 dias de vida, contados a partir da concepção, são considerados como uma janela de oportunidades para otimizar o desenvolvimento das crianças. As pesquisas, em número crescente em diversos países, mostram os efeitos dos cuidados adequados no decorrer de toda a vida. Em alguns países, isso tem aumentado o interesse em implementar políticas públicas para cuidar bem da alimentação e do bem-estar das gestantes e das mães de crianças pequenas, assim como oferecer educação de boa qualidade nos primeiros anos de vida.

É essencial combater a desnutrição nos primeiros 1000 dias para assegurar um melhor nível de saúde da população no longo prazo, uma vez que a subnutrição na gestação aumenta o índice de mortalidade na primeira infância e acarreta déficits cognitivos, além de problemas crônicos de saúde no decorrer da vida. A Pastoral da Criança, ONG que conta com mais de duzentos mil agentes de saúde que atuam em comunidades em todo o Brasil, lançou, em 2015, a campanha “Toda gestação dura mil dias”, enfatizando a prioridade da atenção no período da gestação até os seis anos de vida.

Mas é preciso também combater a “desnutrição emocional”, com ações que priorizem a boa formação do vínculo afetivo entre a família e o bebê desde a gestação. A neurociência mostra, com clareza cada vez maior, que a qualidade dos vínculos influi na arquitetura cerebral. O Center on the Developing Child, da Universidade de Harvard sintetiza, em seus relatórios, centenas de estudos que mostram a importância do vínculo entre a família e o novo ser.

Os estudos de vários economistas, como, por exemplo, James Heckman (prêmio Nobel de Economia em 2000), mostram que é muito mais vantajoso, inclusive do ponto de vista econômico e social, investir em programas de boa qualidade para famílias com bebês e crianças pequenas do que tentar remediar problemas em outras etapas do desenvolvimento.

Portanto, investir nessa janela de oportunidades dos 1000 dias é uma estratégia eficiente para consolidar a saúde global e o desenvolvimento no longo prazo.

Mas o que fazer com os 50 milhões de crianças (pelo cálculo mais recente da UNICEF) afastadas de seus lares, fugindo do terror da guerra, de diversas formas de violência e de perseguição por grupos criminosos? A agência da ONU destaca que há muitas crianças refugiadas, em comparação com outras faixas etárias: são quase a metade, embora sejam cerca de um terço da população mundial. Gestações que acontecem mesclando esperança com desespero, que repercussões terão com tão pouco acolhimento e assistência? Os seres que estão sendo gestados e estão vivendo seus primeiros anos precisam ser prioridade na agenda mundial.